sábado, 29 de novembro de 2008

Luiz Carlos Gulias Cabral


Materia da Agência Brasilia de Comunicação e devidamente autorizado a publicação nesta página, pois conhecemos o engenheiro há muitos anos e sabemos da credibilidade profissional a nivel nacional.


A coisa ficou realmente braba aqui em Santa Catarina.
Sabemos perfeitamente que agora é hora de prestar auxílio e solidariedade aos atingidos diretamente pela catástrofe.
Porém, também temos consciência de que a catástrofe não precisaria atingir a proporção que atingiu.

Não é de hoje que a Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Vale do Itajaí se posiciona contra a ocupação das áreas de risco, sempre alertando para a tragédia que poderia ocorrer.

Promoveu seminários, palestras e debates a respeito. A engenharia regional, infelizmente, não tem sido ouvida com a devida atenção.
Tudo bem que as precipitações ocorridas foram centenárias para o Médio Vale do Itajaí. Mas fica a pergunta: Tivessem ocorrido precipitações na mesma intensidade no Alto Vale, como estaria Blumenau e região agora? Seguramente os níveis do rio teriam alcançado os de 1983, ou até ultrapassado.
Esta é a hora de começarmos a refletir e exigir dos nossos representantes políticos nas três esferas atitudes e ações que ultrapassem o imediatismo da liberação de verbas para socorro, da mão estendida do favor e do discurso oportunista.
Na esfera Municipal, de uma vez por todas, tem que ser impedida a ocupação irregular das encostas e margens dos ribeirões. A rede de água tem que ter reserva para abastecer a cidade durante um período de crise. A defesa civil tem que ser melhor equipada.
Na esfera Estadual, os quartéis do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar tem que ser removidos para áreas que não sejam atingidas pelas enchentes. Há necessidade de se construir um Hospital Regional na margem esquerda, dotado de Heliponto.
Na esfera Federal, estradas, pontes e, principalmente, o sistema de alerta da bacia devem receber total atenção para que possa ter condições de socorro e, principalmente, monitoramento e previsão de cheias com bastante antecedência e na maior exatidão possível. Isso quer dizer monitoramento de toda a bacia (desde o alto vale até a foz do Itajaí) em tempo real. Não adianta liberar uns trocados para a instalação de dois ou três postos de medição, isso é conto do vigário.

Quem sabe, a partir de agora os nossos políticos batam na mesa e exijam de uma vez por todas um plano de defesa decente para o Vale do Itajaí que contemple a monitoração de toda a bacia em tempo real, on line e o que mais for necessário. Não dá para continuar nessa improvisação e na dependência do favor.
Os morros derretem, conforme falou o governador...E agora talvez seja tomada alguma providência, pois todos os morros estão deslizando, não só aqueles onde mora a população mais carente...

O fato é que não dá mais para aceitar a conta que até hoje foi feita: mais vale administrar uma tragédia a cada 20, 30 anos (aí será a vez de outros...).Quantos mais precisarão morrer?

Luiz Carlos Gulias Cabral , engenheiro, foi presidente da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos do Médio Vale do Itajaí e diretor da Faculdade de Engenharia da FURB