
Quando a ponte estiver devidamente construída, ela fará mais do que conectar as cidades de São Jorge do Oiapoque e Oiapoque, nas duas margens do rio. A ponte vai estabelecer a primeira estrada entre a França e o Brasil, assim como a primeira conexão terrestre entre a União Europeia e as Américas.
Apesar de ser um território francês, a Guiana Francesa está localizada na costa nordeste da América do Sul e sofre para ser reconhecida. Seu nome é facilmente confundido com Gana e qualquer um dos países que tenha Guiné no nome, ou com as outras Guianas.
Dependendo da definição, existem de duas a cinco “Guianas”: ao oeste da Guiana Francesa está o Suriname, que era chamado de Guiana Holandesa antes de sua independência em 1975, e ao oeste do Suriname está a Guiana Britânica, que, desde sua independência em 1966, passou a ser conhecida somente como Guiana. As áreas ao redor dos três países, hoje pertencentes à Venezuela e ao Brasil já foram conhecidas como Guiana Espanhola e Guiana Portuguesa.
A obscuridade da região não é fruto apenas de problemas com seu nome. Com uma população combinada de 1,5 milhões, Guiana, Guiana Francesa e Suriname dificilmente geram grandes noticias internacionais.
Se você sabe três coisas sobre a Guiana Francesa, provavelmente são essas: sua capital, Caiena, deu nome a uma famosa pimenta (e a um modelo de carros Porsche); a famosa colônia penal da Ilha do Diabo fica na sua costa; e o país abriga a base de lançamentos espaciais da Agência Espacial Europeia, em Kourou.
Sobre o Suriname? Duas coisas: a Holanda trocou a região com os ingleses por Nova Amsterdã (que mais tarde viria a se chamar Nova York); e o país é o único de língua holandesa fora da Europa. A Guiana? O massacre de Jonestown, em 1978.
Mas juntas, as três entidades são um exemplo de como a geologia e o ambiente podem se combinar com a geopolítica para moldar a história de uma região.
Desde que Belize conquistou a independência em 1981, a Guiana Francesa passou a ser o último território continental das Américas a ser controlado por um país não-americano. Mas na realidade, todas as três Guianas são uma espécie de corpo estranho na América do Sul: os únicos territórios que não tem espanhol ou português como idioma nacional.
Esses são países litorâneos, culturalmente mais próximos do Caribe do que de seus vizinhos sul-americanos.
Além disso, a costa desses países é separada do resto do continente pela densa floresta tropical que se mantém praticamente intocada graças ao Planalto da Guiana, uma cadeia de montanhas, famosa por seus tepuis – enormes formações rochosas que surgem da selva, e abrigam a flora e fauna únicas da região – que ficaram famosos graças a
O Mundo Perdido, de Sir Arthur Conan Doyle, e Up – Altas aventuras, o popular desenho animado da Pixar.
Se anunciar oficialmente a construção da ponte, Sarkozy fará mais do que inaugurar uma obscura passagem na selva: ele ajudará a acabar com séculos de isolamento e conflito de sua Guiana, e inaugurará a tão esperada integração da Guiana Francesa com o resto da América do Sul.
Talvez um dia, se outras pontes forem construídas, haja uma estrada litorânea conectando cinco das capitais da região: Macapá, no Amapá; Caiena, na Guiana Francesa; Paramaribo, no Suriname; Georgetown, na Guiana; e Caracas, na Venezuela. Com as palavras certas, o discurso de Sarkozy pode ser, no futuro, lembrado como o início de tudo.
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